A Santa Casa da Misericórdia
de Lisboa tem um “Gabinete de Apoio ao Alto Premiado” (GAAP) ao qual compete proporcionar a “um feliz vencedor do Euromilhões direito a orientação
jurídica, a orientação financeira, e, se necessário, a orientação psicológica”.
Por não ter encontrado a
regulamentação, socorro-me da informação colhida no DN, de edição que não
consegui identificar.
Da mesma fonte, lê-se que,
“a funcionar desde Março de 2005, o GAAP aplica-se a todos os que ganhem um
prémio superior a um milhão de euros - em qualquer dos jogos da Santa Casa - e
foi criado por uma questão de prevenção.”
Apesar da sua antiguidade,
só agora ouvi falar em tal serviço, a propósito da taluda do natal, cujos
contemplados serão hoje conhecidos.
Desconheço o modo de
funcionamento e quanto custa. Mas custa, seguramente, porque orientações jurídica,
financeira e psicológica não são gratuitas.
O gastar, por pouco que seja, de dinheiro
público ou proveniente de liberalidades de natureza
altruísta com favorecidos pela sorte não tem justificação séria. Que uma instituição
que tem por escopo a protecção dos desfavorecidos afecte meios seus, sempre
escassos, a cuidar dos ricos não é coisa que fique bem a quem, estatutariamente,
está vinculado à prática das catorze obras de misericórdia proclamadas na
doutrina da Santa Igreja Católica.
Mas não são estes factos, negativos, que mais me impressionam.
Os agentes principais da
sociedade consideram que o vulgo não sabe ter dinheiro. As pessoas encaram-no
como normal e, parece-me, o sentimento geral será de aprovação deste tipo de
medidas.
É o que merece a nossa reflexão.
Como se não houvesse já um
sem número de problemas sérios que angustiam mesmo os
que deles não sofrem, inventámos mais um – o ser rico.
Então, quase quarenta anos
depois de debelado o obscurantismo, do acesso à educação e à cultura para
todos, de se ter atingido o zénite da “geração mais qualificada”, reconhecemos
que as pessoas não sabem ter dinheiro?
E a culpa, claro, de
Salazar, a quem se atribui ter inculcado que a felicidade tem a pobreza como
condição necessária.
Ou será dos que, em benefício próprio, construíram uma sociedade frívola e povoaram o país da mais completa impreparação?
Ou será dos que, em benefício próprio, construíram uma sociedade frívola e povoaram o país da mais completa impreparação?
Eu digo sempre ao lojista, assim durmo descansado.Se me sai alguma coisa que se veja, são os pedidos, a começar pelos bancos, ter que escolher a cor do Porche... nada paga o descanso:)
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