segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

COITADO DO ALTO PREMIADO

Não.  Não é um privilégio dos vencedores de estatura elevada.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem um “Gabinete de Apoio ao Alto Premiado” (GAAP) ao qual compete proporcionar a “um feliz vencedor do Euromilhões direito a orientação jurídica, a orientação financeira, e, se necessário, a orientação psicológica”.

Por não ter encontrado a regulamentação, socorro-me da informação colhida no DN, de edição que não consegui identificar.

Da mesma fonte, lê-se que, “a funcionar desde Março de 2005, o GAAP aplica-se a todos os que ganhem um prémio superior a um milhão de euros - em qualquer dos jogos da Santa Casa - e foi criado por uma questão de prevenção.”

Apesar da sua antiguidade, só agora ouvi falar em tal serviço, a propósito da taluda do natal, cujos contemplados serão hoje conhecidos.

Desconheço o modo de funcionamento e quanto custa. Mas custa, seguramente, porque orientações jurídica, financeira e psicológica não são gratuitas.

O gastar, por pouco que seja, de dinheiro público ou proveniente de liberalidades de natureza altruísta com favorecidos pela sorte não tem justificação séria. Que uma instituição que tem por escopo a protecção dos desfavorecidos afecte meios seus, sempre escassos, a cuidar dos ricos não é coisa que fique bem a quem, estatutariamente, está vinculado à prática das catorze obras de misericórdia proclamadas na doutrina da Santa Igreja Católica.

Mas não são estes factos, negativos, que mais me impressionam.

Os agentes principais da sociedade consideram que o vulgo não sabe ter dinheiro. As pessoas encaram-no como normal e, parece-me, o sentimento geral será de aprovação deste tipo de medidas.

É o que merece a nossa reflexão.

Como se não houvesse já um sem número de problemas sérios que angustiam mesmo os que deles não sofrem, inventámos mais um – o ser rico.

Então, quase quarenta anos depois de debelado o obscurantismo, do acesso à educação e à cultura para todos, de se ter atingido o zénite da “geração mais qualificada”, reconhecemos que as pessoas não sabem ter dinheiro?

E a culpa, claro, de Salazar, a quem se atribui ter inculcado que a felicidade tem a pobreza como condição necessária.

Ou será dos que, em benefício próprio, construíram uma sociedade frívola e povoaram o país da mais completa impreparação?

 
 

 

 

1 comentário:

  1. Eu digo sempre ao lojista, assim durmo descansado.Se me sai alguma coisa que se veja, são os pedidos, a começar pelos bancos, ter que escolher a cor do Porche... nada paga o descanso:)

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