Das palavras mais versáteis da nossa língua. O "punctus" que, da picada ou estigma do étimo, se generalizou para designar muito do que é marco temporal.
Hoje é o dia marcado para celebrar a nossa independência. À falta de celebração do acto fundador, hoje é também o único que o calendário oficial admitia para celebrar a nacionalidade.
É, portanto, dia de ponto.
Nós gostamos de aniversários. De eventos alegres ou funestos, suscitadores alegria, que queremos reviver e prolongar, ou reflexão de tristeza já temperada. Nós precisamos dos aniversários, referências da vida que vamos construindo e cimento da unidade com aqueles que também os celebram.
As nações têm também os seus aniversários e da mesma forma deles precisam.
O que hoje evocamos é uma das razões por que me sinto civicamente mais solidário com o habitante (que nenhum conheço) da Ilha do Corvo (onde nunca estive) do que com os madrilenos meus amigos com quem, amiúde, compartilho tapas e tango.
Fingindo um debate público que não existiu, quem manda em nós pôs ponto final neste ponto.
O seu ridículo faz com que não mereçam referência os argumentos da produtividade ou da "crise". Como se, para sair desta, não fosse fundamental uma sólida consciência nacional e como se aquela não tivesse de estribar-se na normalidade da vida de cada um.
Não deve ter sido para nos gozar, mas até parece.
Na ante-véspera do dia em que o poder passará a impedir-nos de celebrar a nacionalidade, vem o governo anunciar tolerância de ponto em dois dias inteiros do mês de Dezembro.
São uns pontos!
Com o argumento, pasme-se, de que, como já é hábito não trabalhar à tarde, não valeria a pena fazê-lo de manhã.
Aqui não importam já a crise e a produtividade. Às malvas também a propalada necessidade de alteração dos maus hábitos que nos trouxeram onde chegámos.
Adule-se o povo com o lazer anódino, esqueça-se a história, ignorem-se as raízes.
Somos, afinal, “europeus”, mandam eles.
São uns pontos, é certo. Mas, cuidado, não dão ponto sem nó.E não me merecem qualquer tolerância.
Muito bom!
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