O liberalismo está errado porque “não funciona”. Poderia até ter sido útil
no passado; no mundo do século XX, e principalmente com a perda da hegemonia
britânica, deixou de o ser. São conhecidos os níveis de endividamente
britânicos também. Mas, a sua existência é questionada tendo como critério a
utilidade.
Assim, verdades que haviam encantado gerações de economistas e conquistado
políticos, empresários e tornado-se senso comum ao conquistar os não
especialistas – “oferta de moeda causa inflação”, “o mercado tende ao
autoequilíbrio”, “o Estado deve restringir-se à segurança e justiça”, “a
poupança favorece o crescimento económico”, “o juro é a remuneração pelo
sacrifício da abstinência” – são postas em questão pela experiência.
Em meados do século XX, predominavam na elite intelectual e económica
inglesa as ideias liberais. O liberalismo justifica e legitima a busca do
lucro, do padrão-ouro, da abertura dos mercados.
Mas coube a Keynes, discípulo da escola de Cambridge, ser o porta-voz da
nova época, desapegar-se do passado e apontar para o novo mundo.
Para Keynes, a crença num mercado “que não erra” não passa de uma
metafísica como todas as outras e a sua crítica ao liberalismo puro
centra-se na incapacidade da sociedade em garantir o pleno emprego e uma
distribuição mais equânime da renda e da riqueza, já que a experiência demontra
que o sistema liberal atribui desproporcionalmente a riqueza a uma única
classe: a da finança, que a usa em seu exclusivo proveito e não no seu
reinvestimento na comunidade.
De facto, a concentração de renda e riqueza é disfuncional, prejudicial ao
crescimento económico e, portanto, ao próprio desempenho do capitalismo. Keynes
é capitalista, defende mesmo que existem valiosas actividades humanas que
requerem o motivo do lucro e a atmosfera da propriedade privada de riqueza para
que possam dar os seus frutos, mas rejeita totalmente o liberalismo económico.
O liberalismo assenta nas seguintes ideias:
1. Existência de leis imutáveis assentes nos mecanismos económicos de
ajustamento de preços, produção e rendimentos que comandam o funcionamento da
actividade económica da sociedade;
2. O comportamento natural dos agentes económicos e a maximização da sua
satisfação com o menor esforço possível;
3. O livre jogo de iniciativas individuais dos agentes económicos estão
assentes nas leis naturais, conduzindo ao equilíbrio da economia, sendo a livre
concorrência a solução, abstendo-se o Estado de intervir na economia, devendo o
Estado concentrar-se apenas nos sectores que a iniciativa privada não quer ou
não pode.
Nesta visão liberal, bastaria estancar o deficit público, e colocar a
inflação sob controle, para que o capitalismo despertasse e houvesse crescimento.
Entretanto, na história da economia mundial, apenas dois países
experimentaram este tipo de sistema económico: a Inglaterra
da Revolução Industrial e por pouco tempo, e, já no século XX,
primeira metade, os Estados Unidos.
A experiência mostrou-nos por diversas vias que o poder do dinheiro é
castrador de direitos e motivador de profundas diferenças e desigualdades
sociais, fazendo desaparecer com as classes médias e cavando fossos enormes
entre os pobres e os ricos do sistema, onde os poderes de regulação que o
Estado deve desempenhar e de soberania, como garantes da uma sociedade mais
equitativa, justa e motivadora de igualdade de oportunidades (só com ela um
país se desenvolve, só quando um Estado assegura ao indivíduo humilde, mas
trabalhador e inteligente, as mesmas condições e oportunidades na comunidade
para crescer e se desenvolver, o Estado pode obter progresso e
desenvolvimento).
O liberalismo puro privilegia o dinheiro à inteligência e o Estado, no fim,
perde com isso.
Quando se deixa ao livre desenvolvimento dos
mercados e da finança o progresso, e se liquida o Estado regulador, o que se
verifica, no fim, é a morte da sociedade desenvolvida de modo mais homogéneo
porque impera o egoísmo de quem podendo ganhar 1000, não vai querer ganhar
apenas 900, mesmo que os 100 sobrantes sejam o seu contributo para uma
sociedade mais justa de oportunidades.
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