Alguma
vez, em qualquer dos lados do Atlântico, algum lusófono teve dificuldade em entender o que o seu irmão da outra banda escrevia?
Alguma vez,
foi alguém capaz de aduzir um argumento
minimamente procedente para justificar a brutal a agressão à vertente escrita da língua, que não fosse uma unificação completamente irrelevante e uma potencialidade de expansão, totalmente por demonstrar?
Mais
tarde, com razão inatacável e inatacada, houve quem alertasse para que, ao contrário, estaríamos a dificultar o
conhecimento da nossa língua por parte de outros
europeus. Espanhóis (nas suas diversas línguas) franceses, ingleses, alemães têm, por exemplo, o
"c" ou equivalente na palavra "actual" ou em muitas outras
em que nós o usamos como mudo, ou,
sendo mais preciso, assim o chamando, porque, em boa verdade, não o é.
Portanto,
a grafia a impor despoticamente, mais do que inútil,
era, em boa verdade, nociva à dita expansão e à virtualidade do seu
crescimento.
Bem que
os africanos lusófonos fizeram expressas menções de recusa de tal imposição.
A
legalidade também não a sustenta, já que não houve ratificação por número suficiente de estados membros da CPLP para que possa
considerar-se em vigor.
Os
governos, actual e precedente, avessos à legalidade, ignoraram o bom
senso, o rigor científico, o respeito pelo nosso íntimo património.
Não foi um tonto quem disse "a minha pátria é a língua portuguesa".
Temos
professores que, à pressa, tiveram (sem
conseguir) de aprender para ensinar. Temos meninos que se iniciam nas letras e
sofrem por ter de aprender com quem (sem culpa) não
sabe. Temos outros, que se haviam iniciado há
pouco, confrontados com a dificuldade de desaprender o que tinham aprendido bem,
para mal aprender o que está mal.
E está mal, de facto.
Quando o
dano é já de difícil (contudo, desejada) reparação, quando rios de dinheiro já
brotaram dos nossos cofres desertos, do Brasil, vem a novidade - a Presidente
Dilma prepara-se para, por decreto, adiar por três
anos a vigência do acordo. Sabendo nós que estes adiamentos são
apenas o prenúncio de outros que,
sucessivamente, ocorrerão até à caducidade prática da medida.
Eis-nos,
pois, no caricato - ficamos a escrever brasileiro de Portugal, os brasileiros
continuarão a escrever brasileiro do Brasil e
o português escrito destinado ao uso de africanos
e orientais.
Em frente
ao altar, esperamos pela noiva que já disse que viria mais tarde,
muito mais tarde. Nós sabemos que nunca virá.
Mas, o
grave é que entregámos o dote antecipadamente.
Mesmo
assim, estamos contentes. Mansos.
A língua seguirá o seu caminho independentemente do que os "cultos" pensarem.
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