sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O CORNO

Alguma vez, em qualquer dos lados do Atlântico, algum lusófono teve dificuldade em entender o que o seu irmão da outra banda escrevia?
 
Alguma vez, foi alguém capaz de aduzir um argumento minimamente procedente para justificar a brutal a agressão à vertente escrita da língua, que não fosse uma unificação completamente irrelevante e uma potencialidade de expansão, totalmente por demonstrar?
 
Mais tarde, com razão inatacável e inatacada, houve quem alertasse para que, ao contrário, estaríamos a dificultar o conhecimento da nossa língua por parte de outros europeus. Espanhóis (nas suas diversas línguas) franceses, ingleses, alemães têm, por exemplo, o "c" ou equivalente na palavra "actual" ou em muitas outras em que nós o usamos como mudo, ou, sendo mais preciso, assim o chamando, porque, em boa verdade, não o é.
 
Portanto, a grafia a impor despoticamente, mais do que inútil, era, em boa verdade, nociva à dita expansão e à virtualidade do seu crescimento.
 
Bem que os africanos lusófonos fizeram expressas menções de recusa de tal imposição.
 
A legalidade também não a sustenta, já que não houve ratificação por número suficiente de estados membros da CPLP para que possa considerar-se em vigor.
 
Os governos, actual e precedente, avessos à legalidade, ignoraram o bom senso, o rigor científico, o respeito pelo nosso íntimo património.
 
Não foi um tonto quem disse "a minha pátria é a língua portuguesa".
 
Temos professores que, à pressa, tiveram (sem conseguir) de aprender para ensinar. Temos meninos que se iniciam nas letras e sofrem por ter de aprender com quem (sem culpa) não sabe. Temos outros, que se haviam iniciado há pouco, confrontados com a dificuldade de desaprender o que tinham aprendido bem, para mal aprender o que está mal.
 
E está mal, de facto.
 
Quando o dano é já de difícil (contudo, desejada) reparação, quando rios de dinheiro já brotaram dos nossos cofres desertos, do Brasil, vem a novidade - a Presidente Dilma prepara-se para, por decreto, adiar por três anos a vigência do acordo. Sabendo nós que estes adiamentos são apenas o prenúncio de outros que, sucessivamente, ocorrerão até à caducidade prática da medida.
 
Eis-nos, pois, no caricato - ficamos a escrever brasileiro de Portugal, os brasileiros continuarão a escrever brasileiro do Brasil e o português escrito destinado ao uso de africanos e orientais.
 
Em frente ao altar, esperamos pela noiva que já disse que viria mais tarde, muito mais tarde. Nós sabemos que nunca virá.
 
Mas, o grave é que entregámos o dote antecipadamente.
 
Mesmo assim, estamos contentes. Mansos.

1 comentário:

  1. A língua seguirá o seu caminho independentemente do que os "cultos" pensarem.

    ResponderEliminar