quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Liberalismo Puro: uma ideologia divorciada da realidade


O liberalismo está errado porque “não funciona”. Poderia até ter sido útil no passado; no mundo do século XX, e principalmente com a perda da hegemonia britânica, deixou de o ser. São conhecidos os níveis de endividamente britânicos também. Mas, a sua existência é questionada tendo como critério a utilidade. 
Assim, verdades que haviam encantado gerações de economistas e conquistado políticos, empresários e tornado-se senso comum ao conquistar os não especialistas – “oferta de moeda causa inflação”, “o mercado tende ao autoequilíbrio”, “o Estado deve restringir-se à segurança e justiça”, “a poupança favorece o crescimento económico”, “o juro é a remuneração pelo sacrifício da abstinência” – são postas em questão pela experiência. 

Em meados do século XX, predominavam na elite intelectual e económica inglesa as ideias liberais. O liberalismo justifica e legitima a busca do lucro, do padrão-ouro, da abertura dos mercados.
Mas coube a Keynes, discípulo da escola de Cambridge, ser o porta-voz da nova época, desapegar-se do passado e apontar para o novo mundo. 

Para Keynes, a crença num mercado “que não erra” não passa de uma metafísica como todas as outras e a sua crítica ao liberalismo puro centra-se na incapacidade da sociedade em garantir o pleno emprego e uma distribuição mais equânime da renda e da riqueza, já que a experiência demontra que o sistema liberal atribui desproporcionalmente a riqueza a uma única classe: a da finança, que a usa em seu exclusivo proveito e não no seu reinvestimento na comunidade.
De facto, a concentração de renda e riqueza é disfuncional, prejudicial ao crescimento económico e, portanto, ao próprio desempenho do capitalismo. Keynes é capitalista, defende mesmo que existem valiosas actividades humanas que requerem o motivo do lucro e a atmosfera da propriedade privada de riqueza para que possam dar os seus frutos, mas rejeita totalmente o liberalismo económico.
O liberalismo assenta nas seguintes ideias:
1. Existência de leis imutáveis assentes nos mecanismos económicos de ajustamento de preços, produção e rendimentos que comandam o funcionamento da actividade económica da sociedade;
2. O comportamento natural dos agentes económicos e a maximização da sua satisfação com o menor esforço possível;
3. O livre jogo de iniciativas individuais dos agentes económicos estão assentes nas leis naturais, conduzindo ao equilíbrio da economia, sendo a livre concorrência a solução, abstendo-se o Estado de intervir na economia, devendo o Estado concentrar-se apenas nos sectores que a iniciativa privada não quer ou não pode.
Nesta visão liberal, bastaria estancar o deficit público, e colocar a inflação sob controle, para que o capitalismo despertasse e houvesse crescimento. 

Entretanto, na história da economia mundial, apenas dois países experimentaram este tipo de sistema económico: a Inglaterra da Revolução Industrial e por pouco tempo, e, já no século XX, primeira metade, os Estados Unidos. 
A experiência mostrou-nos por diversas vias que o poder do dinheiro é castrador de direitos e motivador de profundas diferenças e desigualdades sociais, fazendo desaparecer com as classes médias e cavando fossos enormes entre os pobres e os ricos do sistema, onde os poderes de regulação que o Estado deve desempenhar e de soberania, como garantes da uma sociedade mais equitativa, justa e motivadora de igualdade de oportunidades (só com ela um país se desenvolve, só quando um Estado assegura ao indivíduo humilde, mas trabalhador e inteligente, as mesmas condições e oportunidades na comunidade para crescer e se desenvolver, o Estado pode obter progresso e desenvolvimento).
O liberalismo puro privilegia o dinheiro à inteligência e o Estado, no fim, perde com isso.
Quando se deixa ao livre desenvolvimento dos mercados e da finança o progresso, e se liquida o Estado regulador, o que se verifica, no fim, é a morte da sociedade desenvolvida de modo mais homogéneo porque impera o egoísmo de quem podendo ganhar 1000, não vai querer ganhar apenas 900, mesmo que os 100 sobrantes sejam o seu contributo para uma sociedade mais justa de oportunidades.



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